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Novos formatos de vestibular em faculdades privadas desafiam alunos

Allan Nascimento
Allan Nascimento
Publicado em 27/11/2017 às 12:17
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A adoção de métodos alternativos em vestibulares de faculdades privadas de ponta - como entrevistas e dinâmicas de grupo - tem feito alunos conciliarem os estudos das disciplinas tradicionais com outras estratégias de preparação. Os estudantes recorrem a palestras, debates, simulações de entrevistas, além de livros de ética e filosofia, para ir bem nos testes orais dos processos seletivos de escolas como Fundação Getulio Vargas (FGV), Insper e Albert Einstein.

A preocupação em formar profissionais com mais do que domínio técnico fez com que essas instituições passassem a incorporar exames que avaliem características como empatia, capacidade de argumentação e trabalho em equipe - as habilidades socioemocionais. Nas três faculdades, essa avaliação faz parte da segunda fase do vestibular. Após uma prova tradicional que avalia o conteúdo do ensino médio, parte dos candidatos é selecionada para as provas orais.

No Einstein, por exemplo, eles são avaliados em oito exercícios, com simulações de situações-problema em que são observadas competências como comunicação, liderança e compaixão. Juntos, os testes valem 25% da nota final do estudante.

Fernanda Souza, de 23 anos, faz cursinho pré-vestibular e tenta uma vaga na faculdade de Medicina. Além de conversar com quem já passou pelo teste, decidiu ler livros e ver palestras diversas no tempo livre.

"Procuro entrar em contato com os mais diferentes assuntos para estar preparada para qualquer cenário que aparecer. Não acredito que seja possível treinar essas habilidades, mas é possível aguçar a sensibilidade e a forma como se encaram algumas situações", diz a jovem, que intercala o estudo para os vestibulares tradicionais com leituras de Filosofia e Ética.

"Percebemos que os alunos têm alguns vícios gestuais, como colocar as mãos nos bolsos, passar a mão nos cabelos. Também há questões comportamentais. Alguns jovens não ouvem e têm dificuldade para contra-argumentar. Damos essa devolutiva para que possam melhorar", explica Elcio Bertolla, coordenador pré-vestibular CPV.

Há três anos, a Escola de Administração de Empresas da FGV de São Paulo avalia os candidatos na segunda fase com a apresentação de uma carta de motivação e entrevista. Cerca de 900 alunos são selecionados para essa etapa e 20 professores da unidade foram treinados para a avaliação oral. "Aprimoramos o processo para identificar o candidato que vem com um discurso pronto, muito treinado. Queremos pessoas autênticas", explica Renato Ferreira, coordenador de graduação.

Gustavo Oliveira, de 17 anos, busca uma vaga em Administração na FGV e diz que seu preparo para a segunda fase foi feito em debates promovidos em sala de aula no colégio Móbile, na zona sul de São Paulo. "No ensino médio, participei de muitos debates e conversas sobre os mais diversos temas. A argumentação é uma habilidade que desenvolvi bastante", afirma.

"Fico um pouco nervoso porque nunca tive essas habilidades avaliadas em prova, apesar de trabalhar esse lado na escola", diz Bernardo Lisboa, de 17 anos, que tenta Economia no Insper. "A escola incentiva muito essa formação humana e que os alunos participem. Então, me sinto confortável em fazer esse tipo de avaliação", conta Ana Choi, de 17 anos, candidata de Medicina do Einstein.

O Einstein adota como parte da seleção uma dinâmica em que os candidatos fazem um debate, enquanto são avaliados por uma banca Há ainda avaliação oral individual. "Nosso objetivo é buscar o máximo de informações sobre o candidato e ver se ele tem as competências que consideramos importantes: comunicação assertiva, boa interação com pessoas e pensamento crítico", explica Tadeu da Ponte, coordenador do Insper.

ESTÍMULO

Além do Móbile, colégios dão orientação individual sobre as provas orais, promovem debates e levam alunos dessas faculdades para contar sobre o vestibular. "Não há uma preparação específica. O importante é deixá-los à vontade e familiarizados com esse tipo de situação. Eles não estão acostumados a ter essas habilidades avaliadas em provas, mas elas são trabalhadas na escola. Nosso papel é mais o de orientar do que treinar", conta Claudio Pinheiro, coordenador do Colégio Bandeirantes, na zona sul.

Carlson Toledo, diretor do Colégio Porto Seguro, na zona sul, afirma que as habilidades são treinadas com atividades em grupo e o incentivo à participação e ao debate em classe.

"A essência e as características esperadas por essas provas, eles têm. Fazemos um trabalho de assessoria para explicar como são as entrevistas e dinâmicas porque são jovens e não estão acostumados", diz Toledo.

As informações são da Agência Estado.