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Agora em HQ, 'O Diário Anne Frank' é importante relato do holocausto

Allan Nascimento
Allan Nascimento
Publicado em 15/09/2017 às 12:23
Anne Frank
Anne Frank

Há 75 anos, o diário íntimo de uma menina de 13 anos revelou ao mundo a trajetória de vida e morte de oito judeus-alemães. Eles haviam sobrevivido enclausurados durante 743 dias no anexo de um apartamento em uma Amsterdã ocupada pelo exército e pela ideologia nazista que invadira a Holanda. Publicado há sete décadas, o Diário de Anne Frank tornou-se o maior clássico da literatura do holocausto, um relato poderoso da perseguição sofrida por judeus no momento mais brutal e chocante da história da Europa.

Com 50 milhões de cópias vendidas, o documento escrito por Anne Frank entre 12 de junho de 1942 e 1.º de agosto de 1944 ganha agora duas novas versões adaptadas ao século 21. Criadores de A Valsa de Bashir, animação indicada para o Oscar e vencedora do Globo de Ouro de filme estrangeiro em 2009, o roteirista e diretor de cinema Ari Folman e o desenhista David Polonsky lançam O Diário de Anne Frank em quadrinhos. Folman prepara ainda uma versão em animação para o cinema.

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A adaptação para os quadrinhos, que será publicada em mais de 50 países ao longo de setembro e outubro, foi apresentada em Paris e mobilizou jornalistas de mais de 60 nacionalidades. Converter o livro para graphic novel exigiu dos autores um brutal esforço de concisão. Se fosse transposto na íntegra, a obra em quadrinhos teria 3,5 mil páginas. Por isso, o diário gráfico traz a essência do texto, sintetizado e adaptado por Folman.

Sua maior riqueza em relação ao texto original talvez seja o fato de ter sido imaginado e traduzido para os quadrinhos pelos traços de Polonsky, às vezes divertidos, não raro oníricos e trágicos - como era o próprio "Kitty", o diário escrito por Anne Frank até sua morte, no campo de concentração de Bergen-Belsen, em março de 1945, no apagar das luzes da 2.ª Guerra.

Como nas confissões íntimas da menina, a edição em quadrinhos é fiel à sequência cronológica da narrativa. Estão na adaptação a angústia do início da perseguição nazista, a incompreensão pela violência, depressão, dúvidas e sonhos da adolescência, assim como sua análise cortante sobre a Europa sob o jugo de Hitler.

"À noite, costumo ver longas filas de gente boa e inocente com crianças chorando, andando sem parar até quase caírem. Ninguém é poupado. Doentes, velhos, crianças, bebês, todos são forçados a marchar em direção à morte", escreve Anne Frank, em trecho do original mantido por Folman. Na ilustração, Polonsky desenha rostos magros, olhos tristes e mãos ao alto que falam por si.

Na apresentação do livro, em Paris, os autores comentaram o desafio de traduzir para uma nova linguagem um clássico da literatura que é muito mais do que um best-seller mundial, por seu conteúdo documental ímpar. Ao Estado, Folman lembrou o impacto da leitura do Diário de Anne Frank quando se é adulto, e disse ter imaginado um livro voltado para crianças e adolescentes.

"Um jovem não consegue apreciar o valor literário do livro como um adulto", lembra Polonsky. Por isso, os autores frisaram, na adaptação aos quadrinhos, os temas que atravessam o imaginário dos jovens. "Quando se é adulto, lê-se o diário sob o prisma de uma adolescente falando de você, adulto. Quando se lê ainda garoto se tem outra perspectiva", explicou Folman. "Adolescentes e crianças, em especial meninas, vão encontrar o que eles precisam no diário original: a relação com a mãe, com outras crianças, o amadurecimento sexual."

Isso não significa, porém, que a versão em quadrinhos seja infantilizada demais ou tenha perdido seu caráter político. O contexto opressor da guerra é onipresente. Em um deles, a família aparece adormecida em torno da mesa de jantar, e no texto se lê: "Querido Kitty, o número de ataques aéreos britânicos cresce a cada dia. O Hotel Carlton foi destruído. Aviões ingleses carregados de bombas incendiárias caíram bem em cima do Clube dos Oficiais Alemães. Não temos uma boa noite de descanso há séculos", conta Anne em quadrinho ilustrado com a cidade em chamas.

Para Folman e Polonsky, o diário gráfico e a versão para o cinema são uma missão: a de ajudar a eternizar a história do holocausto entre novas gerações.

Com informações da Agência Estado